sábado, 30 de abril de 2011

Deixando o ninho

Por Leticia Rocha

Lá se vão quase três anos desde a crise econômica mundial (foi em outubro de 2008, lembram-se) que derrubou mercados, e quebrou bancos. Como conseqüência, desemprego, empresas abrindo falência e - o nosso foco nesta matéria - o turismo que ia de vento em popa enfrentou dificuldades.


No entanto, números da Organização Mundial do Turismo (OMT) e do Ministério do Turismo mostram que há uma reversão desta tendência. Apesar de não ter sido nenhuma “marolinha”, o Brasil passou relativamente bem pela turbulência que afetou outros países mais ligados aos “subprimes” e os turistas se beneficiaram da queda do dólar para fazer viagens internacionais, às vezes mais em conta do que um destino doméstico.

Um período cheio de novidades e primeiras vezes, a juventude também pode trazer as aventuras da primeira viagem internacional. É a oportunidade de entrar em contato com outras culturas, conhecer pessoas, e ainda adquirir a tão afamada vivência no exterior, fundamental para a aceitação em diversos processos seletivos atuais.
Para aqueles que fazem valer a frase “onde há vontade, há jeito”, aqui estão algumas possibilidades de estrear o passaporte, com os aspectos principais de cada uma.

Vamos lá. Possibilidade número 1: Intercâmbio

Você quer fazer uma parte do (ou todo) colegial fora do país. Quer estudar uma língua estrangeira no país nativo. Quer ter uma “work-experience”. Ou talvez fazer um curso de extensão universitária. O intercâmbio é para você, meu caro.

Esta modalidade conta com convênios e departamentos de cooperação internacional dentro das universidades, que podem auxiliar no processo da ida, mas a forma mais tradicional é procurar agências especializadas - que têm valores para bolsos mais rasos ou fundos, de acordo com o curso e a duração do programa escolhidos.

Uma boa conversa com entre pais e filhos é sempre um bom ponto de partida, para ver se o sacrifício (emocional e financeiro) será vantajoso para ambas as partes. E, claro, falar com pessoas que já passaram pela mesma situação pode esclarecer dúvidas que ainda nem tenham surgido, além de ajudar com a logística do processo e com indicações de programas e agências confiáveis.

A jornalista Mariana Mello, que passou um ano na França, buscou auxílio do departamento de intercâmbio da ECO/UFRJ, mas revela que correu atrás de quase tudo para se manter no exterior. “Eu entreguei a papelada na ECO, esperei dois meses e me falaram que tinha sido aceita. Mas eu que tive de correr atrás de toda a documentação, eles não forneceram estadia, não verificaram o programa de aulas, nada”, conta Mariana, que depois conseguiu oportunidades de trabalho por dominar a língua francesa, o que foi um diferencial.

Fale com seus amigos e diga o que pretende fazer, eles certamente conhecem alguém ou já fizeram parte de um programa de intercâmbio e podem te ajudar a tomar a decisão com mais segurança, além de indicar quais caminhos tomar para buscar sua viagem.

Possibilidade número 2: bolsa de estudos para graduação ou pós-graduação

A graduação chegou ao fim, e você quer continuar estudando – só que fora do país. Primeiro é bom explicar, basicamente, a nomenclatura utilizada no Brasil para diferenciar os tipos de pós-graduação disponíveis: a lato sensu (cursos não avaliados pelo MEC e pela Capes, ou seja, sem valor acadêmico, mas valorizados pelo mercado de trabalho, como os MBA’s) ou strictu sensu (mestrado e doutorado, cursos que têm como produto final dissertações e teses, focados em pesquisa).

Escolha feita, tem início a busca por uma instituição que faça a ponte entre você e a universidade, preferencialmente com uma bolsa de estudos. Normalmente, órgãos ligados ao governo federal não oferecem bolsas de mestrado, mas várias outras fundações o fazem. E existe a possibilidade menos traumática para o bolso, que é a bolsa-sanduíche, com parte do curso realizada no Brasil e a outra no exterior.

As condições para a concessão do benefício normalmente envolvem alguma participação financeira por parte do estudante, ou seu comprometimento com o retorno para o país de origem após o término do período de vigência da bolsa, então é bom ficar atento para não complicar o planejamento de longo prazo.

A parte prática do problema ainda tem outras questões, como passaporte, visto e a comprovação da proficiência em língua estrangeira, além do preenchimento correto de formulários de inscrição da fundação e da universidade – cuidado é fundamental, pois qualquer engano pode levar à desclassificação do processo seletivo.

É necessário planejar com alguma antecedência para não perder prazos e lembre-se, o ano acadêmico começa no segundo semestre em muitos países. E, claro, o diploma tem de ser revalidado por uma instituição de nível superior ao retornar ao Brasil, para que você possa acrescentar o curso no currículo sem problemas.

Possibilidade número 3: mochilão

A mais econômica das opções não é sinônimo de “perrengues” no exterior. Claro, ajuda ser flexível e estabelecer prioridades, mas não há prejuízo na contabilidade de aventuras vividas. A viagem toda é por conta do mochileiro, que tem de planejar com cuidado para evitar problemas.

Ficar em albergues é “a” escolha neste caso, o que proporciona não apenas a economia de umas valiosas patacas, mas também a oportunidade de conhecer viajantes (bem-intencionados, espera-se) de diversas partes do mundo e que muitas vezes viajam na mesma situação que você.

Criatividade nas refeições também é fundamental para se alimentar bem (falarei adiante sobre a importância de se manter com forças na logística da viagem). A comida fala muito sobre a cultura e a história de um lugar, então experimente pratos novos e diferentes, reserve uma parte do orçamento para as comidinhas de rua e para ao menos um restaurante (fuja daqueles “pega turista”, que são caros).

Esbanjar não é uma opção, então faça a varredura dos supermercados, padarias e feiras locais para conseguir pão, frutas, e sopas a preços convidativos. E também é uma boa checar se o albergue tem cozinha aberta, mais uma chance para jantar econômico e fazer amigos.

Voltando à parte da logística, como você está cuidando do orçamento, a locomoção é outro fator a ser considerado seriamente. Táxi? Isso não te pertence mais, caro viajante. Metrô, ônibus e pernas, haja pernas! É a melhor forma de conhecer bem o destino da viagem, a mais barata, saudável e flexível.

Mas, como todo meio de transporte, precisa ser reabastecido de maneira adequada. Então nada de barganhar com seu corpo: carregue a garrafa d’água a tiracolo, roupas confortáveis (ajuda viajar nas épocas mais quentes do outono e da primavera – verão é alta temporada e você está economizando!) e pare para um lanchinho de vez em quando.

Outros passos importantes do pré-viagem são questões de passaporte/visto e a necessidade de vacinas para entrar em países tropicais e africanos. O que, não tens passaporte? Pois veja isso já, pague a GRU (R$ 146,50), agende sua visita ao posto da Polícia Federal e cheque se é necessário visto para entrar no(s) país (es) de seu roteiro. Se for, leve em consideração o prazo para entrevista e a possibilidade de não obter o “sim” da embaixada ou consulado.

A jornalista Carla Marques aproveitou a chance de obter passagens a preços camaradas, e embarcou com uma amiga para a Tailândia – destino pouco comum para os aventureiros, que preferem explorar a Europa e as Américas.


“Tínhamos apenas 2 semanas lá, então tivemos que planejar bem nosso roteiro. Pesquisamos as companhias low-cost e compramos as passagens para os lugares que íamos visitar no país, ao mesmo tempo que fechamos albergues nestes lugares. Conhecemos as praias e ilhas mais lindas que já vi na vida! Até aquela em que filmado ‘A Praia’, com o Leonardo Di Caprio”, conta Carla, que também faz um alerta “existem muitos tipos que querem levar vantagem, por isso é importante ficar sempre atento e nunca deixar de negociar os preços nas ruas”.

Antecedência e planejamento são fundamentais para cortar despesas e evitar surpresas desagradáveis, então pense bem o seu roteiro e vá à luta.

Possibilidade número 4: pacote de viagem

Pelas agências de viagem é possível fechar pacotes para um ou mais destinos, com direito a hotel, passeios com guia e refeições incluídos no total. Boa opção para quem tem medo de se ver sozinho em outro país, às vezes sem falar o idioma, e que prefira uma viagem de férias com mais “confortos” do que os mochileiros. Existem inúmeras agências, o que facilita o processo de tomada de preços, mas atente para a lotação dos pacotes em períodos de alta temporada, como as férias, que demandam reservas com meses de antecedência.

Hotéis, cruzeiros, roteiros de passeios guiados, você faz o seu pacote de acordo com as opções disponibilizadas pelas agências, mas a flexibilidade muitas vezes pára por aí. Para oferecer as condições já citadas, os pacotes precisam ter certo nível de estrutura fixa, o que permite maior previsibilidade, mas pode incomodar espíritos independentes que prefiram atividades solitárias.

Outro “contra” é o valor, pois a estadia em hotéis e o custo com ônibus/guias pode encarecer a viagem - empecilhos compensados com a tranqüilidade de ter a locomoção e a visita aos principais pontos turísticos com alguém para explicar aquela escultura que você não conseguiu entender bem o que é.

Para aliviar o bolso, as opções de pagamento são várias (a maioria das agências disponibiliza o preço em dólar, então aproveite o período de desvalorização da moeda estrangeira), com o preço dividido em suaves prestações.

E assim termina nosso mini-guia. Apresentamos aqui apenas algumas possibilidades, mas definir objetivos é a primeira coisa a ser feita. Depois, sim, é hora de montar um roteiro e começar a planejar a engenharia financeira para tornar sua viagem possível e sem sustos. Afinal, a “aventura” não deve se aplicar a nada além das descobertas e amizades feitas em uma cultura diferente.

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